Agência Aids
10/02/2021
A Organização Mundial de Saúde passou a recomendar, na última semana, que o anel vaginal com dapivirina (DPV-VR) possa ser oferecido como uma opção de prevenção adicional para mulheres com risco substancial de infecção por HIV como parte das abordagens de prevenção combinada.
O DPV-VR é uma opção iniciada por mulheres cisgênero para reduzir o risco de infecção por HIV. Para o uso adequado do anel, ele deve ser usado dentro da vagina por um período de 28 dias, após o qual deve ser substituído por um novo anel. O anel é feito de silicone e é fácil de dobrar e inserir, e funciona liberando o medicamento antirretroviral dapivirina do anel para a vagina lentamente ao longo de 28 dias.
Confira o que mulheres especialistas em sexualidade pensam sobre a nova tencnologia de prevenção:
Regiane Garcia, psicóloga e sexóloga:
“Eu penso que em se tratando de prevenção combinada é muito interessante porque o próprio nome já diz: combinada. É combinada e optativa, porque são várias opções – como traz a mandala da prevenção – que podem se adaptar a cada pessoa, a cada realidade, a cada estilo de vida. Então eu penso na diversidade das vidas, das pessoas viverem sua sexualidade, terem suas relações, então, como prevenção acho ótimo o fato de ser mais uma opção para as mulheres cis. Acho que a prevenção combinada é importante por conta disso, porque ela acaba contemplando as diferentes questões que envolvem a sexualidade, como a orientação, identidade de gênero e toda a expressão da sexualidade e o estilo de vida das pessoas. É diverso e é inclusivo. Eu só tenho algumas ressalvas, como especialista em sexualidade, pensando que é mais uma questão de prevenção que cai no colo das mulheres, principalmente pensando em mulheres cis heterossexuais. Como todas as questões de contracepções que caem sempre para as mulheres decidirem, de elas terem que fazer uso de métodos para poder prevenir gravidez, e esse é meu grande questionamento. Já tem tanta dificuldade de fazer um homem usar o preservativo externo, que essa pode ser, de novo, uma chance para passar o pano para muitos homens heterossexuais. Além disso, ouvindo vários ginecologistas sobre anel vaginal como método contraceptivo, uma questão que me vem é a sexualidade feminina. Há mulheres com dificuldade de se tocar e que tem tabus em relação a sua sexualidade, e aí questiono como fica a situação do anel porque é preciso usar ele por três semanas, e na quarta você tira. Então questiono como é que fica para as mulheres que muitas vezes apresenta dificuldade com sua sexualidade e a relação com sua genital, ficar introduzindo o anel vaginal a cada três semanas, tirando, pondo. Penso que, antes da prevenção, precisamos pensar na sexualidade como um todo e, principalmente na feminina, que ainda é tão complicada, pouco discutida e difícil. A gente tem que voltar umas casas e pensar de novo na educação sexual, pensar que temos que falar de sexualidade nas escolas, de prevenção em grupos de jovens adolescentes, falar de sexualidade nos ambientes que esses jovens frequentam e quebrar os tabus sobre sexualidade feminina, porque o que está por trás de tantas dificuldades é a falta de entendimento sobre o próprio corpo e a fala aberta, clara, objetiva e tranquila sobre uma área tão importante da vida.”
Marta McBritton, coordenadora do Instituto Cultural Barong:
“Fundamental ampliar o 'cardápio' da prevenção combinada. A prevenção ideal é sempre aquela com a qual o indivíduo se identifica e por vezes ela muda, conforme o tipo de relação, o momento, o parceiro. Nenhum método pode ser uma seita. O anel vaginal, bem como o preservativo externo, é interessante como método também porque possibilita o toque pela própria mulher. Para utilizá-lo corretamente, é preciso conhecer o próprio corpo. Também proporciona mais autonomia. O desafio neste momento, é saber se, quando e como será incorporado pelo SUS.”
Margarete Preto, Projeto Bem-me-Quer:
“Para mim é um avanço a Organização Mundial de Saúde recomendar para as mulheres o anel vaginal com dapivirina (DPV-VR) como uma opção de prevenção da infecção por HIV dentro da prevenção combinada. Ainda há barreiras no acesso à saúde, principalmente para as mulheres em situação de maior vulnerabilidade, mulheres em situação de violência doméstica, adolescentes e jovens que têm dificuldade de negociar com o parceiro o uso do preservativo, dentre outros fatores que dificultam a prevenção. O uso do anel vaginal traz também a possibilidade da mulher assumir o protagonismo de sua saúde, uma vez que não depende do parceiro. Cabe ao/à profissional de saúde informar e orientar sobre os critérios médicos de elegibilidade, que irá determinar se a mulher (adolescente, jovem ou adulta) pode ou não usar este método, caso tenha sido de sua escolha, e combiná-la com as outras estratégias da Prevenção Combinada, como o preservativo, que ainda é o método mais completo para prevenção, da gravidez indesejada e de todas as ISTs. Tomar as rédeas da vida faz toda a diferença!”
Edna Peters Kahhale, psicóloga da PUC-SP:
“Ótima recomendação! Mais uma conquista na possibilidade de maior autonomia e protagonismo das mulheres no incremento de suas escolhas sexuais e direitos sexuais e reprodutivos. Quanto mais possibilidades de escolha e de autocuidado que a mulher tenha, melhor sua saúde mental. Como a própria OMS recomenda, não basta criar e distribuir o anel vaginal DPV-VR, seu uso exige que as mulheres (desde as mais jovens até as mais velhas) apropriem-se de seus corpos na amplitude que isso significa: tocar-se; conhecer cada parte de seu corpo, principalmente os genitais. Isso porque o uso do anel exige que a mulher, nao só se toque, mas que introduza o anel na vagina e o encaixe ao redor do colo uterino, ou seja, deve tocar-se introduzindo o dedo no canal vaginal. Parece fácil! Mas dependendo das crenças e do domínio do próprio corpo, é uma tarefa dificilima, que exige apoio, escuta e uma rede de atenção oferecida pelos serviços de saúde junto com o terceiro setor (sociedade civil). É necessário que as orientações da OMS sejam implementadas para atingir um grupo amplo de mulheres nas suas especificidades e com isso promover autonomia, protagonismo e direitos humanos. Precisamos reivindicar a implementação dessas orientações, teremos mulheres mais saudáveis sexual e mentalmente!”
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