Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids email mopaids@gmail.com

Ativistas comentam campanha do Governo Federal em alusão ao Dezembro Vermelho

Com o tema HIV Tem Prevenção e Tratamento, a campanha de 2023 traz como assunto central a prevenção combinada e o tratamento como pilar no enfrentamento ao HIV.

Campanha do Dia Mundial de Combate à Aids de 2023 do Ministério da Saúde | Foto: Divulgação Ministério da Saúde
Campanha do Dia Mundial de Combate à Aids de 2023 do Ministério da Saúde | Foto: Divulgação Ministério da Saúde

Agência Aids
08/12/2023

Em alusão ao Dia Mundial de Luta contra a Aids, celebrado sempre em 1 de dezembro , o Ministério da Saúde lançou a campanha nacional para reforçar e conscientizar sobre a prevenção e tratamento do HIV. Desta vez, o foco são jovens, população mais afetada, segundo o Boletim Epidemiológico de HIV/Aids 2023.

Com o tema HIV Tem Prevenção e Tratamento, a campanha de 2023 traz como assunto central a prevenção combinada e o tratamento como pilar no enfrentamento ao HIV.

As peças publicitárias abordam de maneira abrangente informações sobre o uso das camisinhas interna e externa, enfatizando a necessidade de buscar esclarecimentos em unidades de saúde, indetectável é igual a zero risco de transmissão e autocuidado. Além disso, foram fornecidas informações sobre a PEP (Profilaxia Pós-Exposição) e a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e testagem.

A Agência Aids ouviu ativistas e comunicadores para entender como a comunidade recebeu a campanha, avaliando se as mensagens transmitidas pelo governo atendem às necessidades e expectativas do tema.

Confira as declarações:

Salvador Corrêa - psicólogo, escritor, sanitarista e membro da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids, núcleo Rio de Janeiro:
“Depois de tantos anos sem campanhas que valorizassem a diversidade e os direitos humanos, finalmente temos uma muito bem elaborada, alinhada com o que temos pleiteado há décadas, que valoriza o amor e a prevenção em seus vários jeitos. É emocionante ver um acerto da valorização de nossa pluralidade humana. Precisamos disseminar mais e mais para que mensagens como essa alcancem cidades grandes, médias e pequenas, incluindo o interior do país. Temos o desafio de resgatar a mobilização afetiva e o envolvimento de toda a sociedade, academia e esferas de governo. Não vemos mais busdoor, outdoor, spot de rádio que alcancem cidades além das capitais. Os municípios precisam assumir a responsabilidade nas campanhas e o Ministério da Saúde deveria disseminar cada vez mais para o interior, por exemplo, com envio de mais e mais materiais. Que possamos sempre lembrar que 'existem vários jeitos de amar e vários jeitos de se proteger do HIV.' Parabéns Ministério da Saúde! Estamos no caminho certo!”

Nair Brito - fundadora do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas:
“Achei uma campanha rasa e acho que ela não acrescenta muito. Acho que ela traz mais para o âmbito da festa, do lugar comum. Na verdade, é repetitiva, ela não inaugura nada de novo, ela traz a mesma temática. Mas talvez fosse boa para um outro momento, talvez de carnaval ou alguma outra festa. Porque um dia de luta, eu entendo que devesse ser alguma coisa com um propósito, de um tema que aprofundasse os passos de 40 anos [da epidemia].”

Eduardo Barbosa - coordenador do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra Aids):
“A peça publicitária lançada por ocasião do Dia Mundial de Luta Contra a Aids fala de forma leve e para a juventude, aborda os temas centrais que hoje buscamos trabalhar: prevenção com respeito às diferenças, cuidados consigo e com o outro e a não discriminação. Vale replicar amplamente.”

Rafael Roller - produtor audiovisual, designer e escritor:
“A campanha desse ano está muito bem produzida, gosto de como a mensagem é elaborada, começando de forma envolvente, falando de relacionamentos e gerando curiosidade do que está por vir, depois finalizando com as informações e o incentivo a prevenção e respeito. A abordagem jovem e inclusiva é fundamental para engajar pessoas na conscientização. Explorar essa linguagem certamente pode amplificar o alcance e a eficácia das campanhas de prevenção.”

Vanessa Campos - da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+Brasil):
“A campanha 2023 sobre prevenção ao HIV mostra as principais estratégias como camisinha, PEP, PrEP e testagem. Abre janelinhas que mencionam I=zero, e nomeiam os preservativos de forma inclusiva como “interno e externo” (sinalizando o respeito e inclusão das pessoas trans e não binárias). Isso é um grande avanço e parabenizamos. Por outro lado, conforme também já havíamos sinalizado durante a coletiva de imprensa no lançamento do Boletim Epidemiológico de HIV/aids do Ministério da Saúde, a falta do gel lubrificante nesta campanha é uma falha gravíssima, considerando que o gel e o preservativo são os itens mais antigos e básicos da prevenção desde o início da pandemia de aids. Esperamos também que os preservativos tenham a nova nomenclatura (interno e externo) em suas embalagens, bem como as novas aquisições de preservativo interno sejam 100% de borracha nitrílica, exatamente como o da embalagem roxa que está sendo mostrada na campanha. Não queremos preservativos internos de látex e de baixa qualidade, como o da embalagem laranja que foram adquiridos no (des)governo passado.”

José Cândido - da ONG Gestos, de Pernambuco:
“Gostei da campanha, uma campanha bem específica com uma linguagem jovial, mas sinto que nós não temos campanhas mais constantes. Elas precisam acontecer sempre e não somente no primeiro de dezembro.”

João Geraldo Netto - fundador do Instituto Multiverso e criador de conteúdo digital:
“Depois de um apagão de mais de quatro anos sem campanha do Dia Mundial de Luta contra a Aids, a de 2023 me surpreendeu muito positivamente. Seja pelo uso de pessoas com corpos diversos, com orientações, gêneros e identidades de gêneros diversas, seja pelo uso de termos muito atuais, como 'indetectável = ZERO transmissão', camisinha 'interna' e 'externa', informações sobre o tratamento simplificado e um foco importante na prevenção combinada como um todo, considerando o prazer, o desejo e a autonomia do usuário. Isso reduz assim a velha e inadequada prescrição apenas do preservativo. Gostei da linguagem utilizada, do tom de voz, da fotografia e da energia da campanha. O texto aguça a curiosidade e incentiva as pessoas a buscarem por nomes que são desconhecidos para a maioria, como PrEP e PEP. Infelizmente, pelo tempo curto de uma propaganda de TV, não é possível passar muito mais informações, mas considero que conseguiram comunicar muito na peça que deve veicular nas TVs abertas. Mas ao mesmo tempo que elogio a campanha em si, trago o sério questionamento se a política de HIV/aids do Brasil voltará de fato a seguir a linha inovadora que sempre teve, haja vista que, infelizmente, hoje, percebo poucas mudanças, muito apagamento da temática do HIV/aids em detrimento de outras neste quase um ano de nova gestão.

Evalcilene Santos - do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, núcleo Amazonas:
“Falando desta campanha do Ministério da Saúde, é super importante a gente trazer as prevenções que temos, a PrEP, a PEP que também é uma profilaxia muito importante, prevenir a transmissão vertical, diagnosticar as pessoas com ISTs, redução de danos que não é mais falada… mas temos uma complicação dos estados brasileiros, sem a implementação dessas prevenção que podem combinadas, a gente não consegue muita coisa. Precisamos que os estados e municípios se comprometam com a proteção e cuidado das pessoas com HIV/aids, com a diminuição da discriminação e estigma que ainda acontece muito nos estados brasileiros. Não pode faltar profilaxia pré e pós exposição. O acesso muitas vezes é negado para as populações vulneráveis ou vulnerabilizadas, então precisamos reforçar a nossa prevenção combinada, porque só com ela nós vamos tentar melhorar a qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV/aids. Temos que prevenir a população brasileira com todas essas prevenções que em muitos estados estão precárias. É muito importante o reforço da informação sobre I=I […] tudo isso é importante, mas precisamos do compromisso dos estados, municípios e também do governo federal para o fortalecimento desta política pública de HIV/aids e da prevenção combinada.”

Thais Renovatto - publicitária e Influenciadora digital:
“Acho que muito do que ainda é visto hoje, 40 anos após o boom da aids, é uma comunicação muito voltada para prevenção, ou com focos midiáticos, de pessoas doentes, magras e a analogia do “se cuide hein para não acabar assim…”, faltava um projeto de peso, que falasse sobre tantas pessoas que vivem bem, que estão indetectáveis e que personificam o futuro da aids muitas das vezes.”

Assista a campanha na íntegra: