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Uso da PrEP não aumenta a incidência de outras IST, afirma dra. Beatriz Grinsztejn, da Fiocruz

Médica responsável por estudo IMPrEP no Brasil compartilha que apenas 30% das pessoas que usam PrEP desenvolvem outras infecções sexualmente transmissíveis

Dra. Beatriz Grinsztejn durante a 17ª edição do Hepatoaids em São Paulo. | Foto: Agência Aids
Dra. Beatriz Grinsztejn durante a 17ª edição do Hepatoaids em São Paulo. | Foto: Agência Aids

Agência Aids
14/05/2024

A cidade de São Paulo recebeu nos dias 9, 10 e 11 de maio a décima sétima edição do Hepatoaids, um dos mais importantes fóruns de atualização, capacitação, compartilhamento de conhecimento, melhores práticas e inovação do cuidado no universo do HIV/aids, hepatites virais, tuberculose e infecções sexualmente transmissíveis. O evento contou com um amplo programa científico, pensado para médicos, enfermagem, farmacêuticos, equipe de saúde mental, estudantes, residentes e todos os profissionais da área da saúde. Dentre as 23 mesas de discussão e painéis da programação do evento, a brasileira Dra. Beatriz Grinsztejn, da Fundação Oswaldo Cruz, conduziu a palestra “Conferência: Estado da arte da PrEP” na qual apresentou resultados do estudo ImPrEP, que analisa a implementação da profilaxia pré-exposição oral e diária em populações vulneráveis.

A cientista compartilhou que o estudo constatou que a adesão à PrEP tem variações e que, embora a dose ideal de sete vezes por semana é o que mais protege da incidência do HIV, observou-se uma proteção quase igual nas pessoas que usam de 4 a 6 doses. “Mas também houve proteção em pessoas que usam de 2 a 3 doses semanalmente. A gente tem que entender que não é preto ou branco, existem nuances que também podem trazer benefício em relação quanto à incidência de HIV”, afirma Dra Beatriz.

As pesquisas demonstraram também que a melhor adesão à PrEP ocorre entre pessoas com mais de 35 anos, principalmente homens que fazem sexo com homens. Populações trans e jovens de 18 a 24 anos apresentaram a pior adesão. Além disso, indivíduos com baixa escolaridade foram associados a maior risco de infecção pelo HIV.

Outra informação observada pela equipe de cientistas que conduz o estudo é que o uso da PrEP não aumenta a incidência de outras ISTs. “Isso é um conceito amplamente divulgado, no entanto apenas 30% de todas essas pessoas que tinham segmento em PrEP desenvolveram ISTs”, explica a médica. “É muito importante que a gente entenda isso para que quando pudermos implementar a DoxyPEP no futuro, ela seja disponibilizada para as pessoas que são altamente vulneráveis às ISTs, dentro de um perfil mais específico e não para todo mundo que está usando PrEP para o HIV”.

Atualmente, a pesquisa ImPrEP se encontra na segunda fase, na qual é estudada a adesão ao cabotegravir injetável de longa duração (CAB LA), também conhecido como PrEP injetável. O objetivo principal é gerar evidências científicas sobre a possível inclusão do CAB-LA como mais uma opção de PrEP e prevenção combinada no Sistema Único de Saúde no Brasil.

O ImPrEP CAB Brasil está sendo implementado inicialmente junto a 1200 participantes gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas não-binárias, travestis, mulheres e homens trans HIV negativos, de 18 a 30 anos, consideradas populações mais vulneráveis ao vírus. O projeto acontece em seis serviços de saúde pública que ofertam a profilaxia, localizados no Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Campinas, Florianópolis e Manaus.

Implementada no Brasil em 2018, atualmente apenas 5% da população vulnerável ao vírus da aids tem acesso à PrEP. Os interessados em usá-la pela primeira vez como forma de prevenção ao HIV que forem a esses serviços públicos de saúde podem optar entre a modalidade oral e a injetável, desde que estejam dentro dos critérios de inclusão. Para fazer essa escolha, receberão informações específicas sobre cada modalidade, visando saber qual delas melhor atende ao seu estilo de vida.